VALE A LEITURA!
CRIMINALIZAÇAO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS, PERSEGUIÇOES, IMPUNIDADE
"POUCO A POUCO, E DE MANSINHO, A DITADURA SE INSINUA"
http://gertschinke.blogspot.com.br/2014/07/pouco-pouco-e-de-mansinho-ditadura-se.html
POUCO A POUCO, E DE MANSINHO, A DITADURA SE
INSINUA
É inacreditável que,
sob a égide daquilo que chamamos de ‘estado democrático de direito’, aconteçam
os fatos recentes no Rio de Janeiro, com ‘prisões preventivas’ a pessoas que
supostamente iriam se manifestar em algum protesto público.
O ‘estado policial’ é um
evidente retrocesso na direção de uma ditadura !!!
Do episódio, que não
é isolado, depreende-se o evidente conluio entre autoridades policiais e do
Judiciário, onde as primeiras mapeiam e indicam os alvos, e no âmbito do
segundo se dá mero despacho para as prisões arbitrárias. Elas derrubam a tese
da vigência plena dos direitos humanos, como o de livre locomoção, de
manifestação, de opinião, e, de resto, as liberdades democráticas pelas quais
tanto se lutou nas últimas décadas no país e pelas quais tanta gente morreu.
Mas a repressão não
se abate somente por sobre pessoas que supostamente iriam protestar. O Estado
brasileiro em seu conjunto, e salvo raras exceções, aplica a lei de forma
seletiva, por via da imposição discricionária por parte do grupo que se
encontra no poder sobre todo aquele que considera seu ‘inimigo político’. Na
outra mão, deixa de aplicar a lei aos seus ‘amigos’ – pessoas ou grupos de
interesse mais afinados com seus objetivos políticos, apoiadores de campanhas
eleitorais... E a trilha em
direção à ditadura não se restringe às penalizações e perseguições a
manifestantes. Ela caminha também pela impunidade e total falta de isonomia,
face ao tratamento diferenciado dado a figurões e empresários, entre outros
setores das elites.
Um bom exemplo desse
comportamento por parte de autoridades públicas nos mostra um caso bem recente
de terrível agressão ao meio ambiente em Floripa-Gotham-City. Todo santo ano
(há mais de 20) algum capanga contratado pelas empresas supostamente
proprietárias de duas imensas áreas na planície do Pântano do Sul, coloca fogo
na vegetação com o propósito de impedir o crescimento da Mata Atlântica e de
sua regeneração nas partes onde já foi parcialmente suprimida. Isso é feito em
função do interesse de construir na área dois enormes empreendimentos
imobiliários que, somados, correspondem ao Loteamento Jurerê Internacional, em
termos de superfície e quantidade de gente.
Em janeiro deste ano,
novamente um grande incêndio foi provocado na área e o fato gerou grande
repercussão, ensejando inúmeras matérias jornalísticas. As autoridades
ambientais e policiais proclamaram não conseguir atribuir a autoria do
incêndio, embora sabedoras quem sejam os proprietários da área afetada. A
pergunta que não quer calar: houve aplicação de multa e outras penalidades aos
proprietários da área onde se deu o incêndio? Área esta que já foi objeto de
várias tentativas de licenciamentos ambientais com vistas aos projetos
mencionados, e reiteradamente negados pelos órgãos licenciadores. Até hoje não
houve qualquer notícia que tenha havido alguma multa por parte da FLORAM ou da
Polícia Ambiental, e isso considerando que o incêndio causou enormes danos à
fauna e a flora, como sempre tem causado. Entende-se por que: são ‘amigos’ do
grupo que ora está no poder, controlando a máquina pública a serviço dos que
lhe são fiéis.
Mas a coisa não para por aí. A FLORAM ignora
solenemente uma ‘Recomendação’ do MPF-SC (Recomendação 04/2012), documento que foi
enviado formalmente à sua direção e que a alerta, assim como o IPUF e o governo
municipal no conjunto, sobre o descumprimento da legislação ambiental na
finalização do Plano Diretor. O documento toma como exemplo a área da planície
do Pântano do Sul, objeto de uma Informação Técnica (IT 399/2011) do IBAMA,
parecer este que conclui pela incolumidade da planície por se tratar de uma APP
em seu conjunto, inclusive fazendo menção ao fato de que ela é objeto de uma
proposta de criação de um parque natural em tramitação na própria Prefeitura.
Ora, a Prefeitura não só passou por cima dessa Recomendação e do parecer
técnico que a embasou, como permitiu que a área da planície ficasse com o
zoneamento de ‘AUE’ – Área de Urbanização Especial, um ‘jeitinho retórico’ para
acolher edificações ou projetos especiais. Essa traquinagem se deu por via da
apresentação de uma emenda articulada pela ‘bancada do concreto’ na Câmara
Municipal e FOI ACATADA PELA PMF, sem que houvesse veto a ela, embora pedido
por parte de inúmeras entidades e movimentos sociais na reta final de votação
do PDP e durante a etapa de vetos por parte do prefeito. Incorre, assim, a PMF
e, especificamente a FLORAM, em conflito aberto com a legislação ambiental,
embora tenha sido alertada oficialmente para tanto. Pode? E nada de mais
acontece com a direção da FLORAM, do IPUF, como de resto com qualquer dirigente
municipal.
Outro verdadeiro
escândalo em Floripa-Gotham-City é o número de construções erguidas
recentemente e que continuam sendo erguidas em áreas de floresta e encostas de altíssima
declividade em várias áreas da cidade. Mas em geral não são quaisquer casebres.
Trata-se, em sua grande maioria, de grandes residências, coisa para os bolsos
das altas classes sociais. A pergunta que se coloca: como podem eles construir
mansões em áreas de APP? Em meio à Mata Atlântica, nas encostas íngremes de
morros? Em verdade, essa gente tudo pode, pois tem seus malfeitos acobertados
pelos órgãos públicos que deveriam evitá-los – são os ‘amigos’, aos quais não
se aplica a lei, simples assim. Logo que assumiu, o prefeito declarou com muita
pompa que iria contratar quarenta novos fiscais e técnicos para a combalida
FLORAM. Em verdade, somente contratou dez técnicos, sendo que para as áreas
administrativas do órgão, o que deixa a cidade às moscas quanto à fiscalização
ambiental, assim como a estrutura técnica do IPUF continua praticamente a mesma.
Para alguns, é claro, para outros nem tanto. Prometeu assim que assumiu, mas
depois ‘esqueceu’.
Noves fora: aos
pouquinhos, aqui e ali, vai chegando ‘de mansinho’ (baixo porrete e prisões) o
estado ditatorial e se esfumaçando o ‘estado de direito’, ainda que em meio a
uma profusão de leis que defendam e regulem direitos sociais. Que se aplicam a
alguns, enquanto não se aplicam a outros. E, lentamente, se insinua a ditadura
no horizonte tal como uma nuvem carregada de tempestade. Sobre alguém ela
descarregará sua energia.
E todo esse cenário vigora
sob a égide de um governo nacional composto em grande medida por gente que diz
ser ‘de esquerda’, e ter sofrido todo tipo de mazela por parte da ditadura
cívico-militar nos anos de chumbo. Em atendimento ao badalado ‘padrão FIFA’, fortaleceram
as polícias militares estaduais, leia-se os ‘exércitos dos governadores’, como
nunca ‘nesse país’, ao injetar mais de R$ 1,4 bilhão em equipamentos
sofisticados e treinamento antes e durante a Copa. E a brutal repressão que
agora se abate sobre as pessoas ‘presas por antecipação’, se dá justamente com
o apoio de todo o up-grade feito no aparato policial, a exemplo dos ‘drones’
fornecidos por Israel que aqui rondam sobre sua cabeça e despedaçam os
palestinos. Essa turma, definitivamente, não tem moral para falar em ‘defesa
dos direitos humanos’.
Em
Floripa-Gotham-City, porém, forjou-se uma peculiaridade mui singular: o PP do
imperador e o PT da Ideli, assim como o PSD do Colombo, farão a campanha de
Dilma. Como poderão criticar uns aos outros se todos eles estão no mesmo
balaio? É tudo flores, só confetes. Em conjunto adotaram a regra: Quem critica
alguma coisa vira ‘terrorista’ e não se fala mais nisso.
Gert Schinke – julho de luto no pós Copa de 2014
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